A replicação do
DNA é semi-conservativa, cada uma das fitas serve como molde para a construção
de uma nova molécula. Esse processo permite que a informação genética (seqüência
de nucleotídeos) seja copiada de modo extremamente simples e
eficiente.
Em
condições normais a dupla hélice de DNA é muito estável, por exemplo, apenas em
temperaturas muito altas (próximas a 1000 C) as pontes de hidrogênio
são desfeitas e as fitas complementares se separam. Porém, a transferência de
informação genética, seja através de replicação (transferência de informação de
uma molécula de DNA para outra) ou de transcrição (transferência de informação
de uma molécula de DNA para uma molécula de RNA) depende da separação das fitas
complementares. É necessário que a dupla hélice seja desfeita, que as bases
sejam expostas para formação da nova fita complementar. As cadeias de DNA
separadas (em fita simples) constituem as fitas moldes para o processo de
replicação.
ORIGENS DE REPLICAÇÃO
A replicação ou duplicação do DNA é um processo complexo,
realizado por um conjunto de proteínas que recebe o nome de maquinaria ou
máquina de replicação.
A replicação do DNA só ocorre porque “proteínas
iniciadoras” sintetizadas no momento adequado (fim de G1) se ligam a sítios
específicos do DNA, denominados de origens de replicação. A ligação das
proteínas iniciadoras nas origens de replicação promove a separação das duas
fitas do DNA, expondo um pequeno número de bases sem
pareamento
.
As origens de replicação são formadas por
seqüências de nucleotídeos especiais – em leveduras, por exemplo, são conjuntos
de aproximadamente 100 pares de bases (pb), ricos em bases AT (mais fáceis de
serem separadas). O número de origens de replicação é variável, dependendo da
espécie ou do grupo de organismos.
O genoma das bactérias tem uma organização bem simples,
sendo constituído por uma única molécula de DNA circular maior (o cromossomo
bacteriano) e pequenos círculos de DNA (os plasmídeos), cada um desses elementos
contém apenas uma origem de replicação.
Para os
cromossomos eucariontes, formados por longas moléculas de DNA linear, existem
várias origens de replicação, o que permite que a duplicação do DNA se inicie
simultaneamente em vários locais dos cromossomos, tornando o processo mais
rápido. Estima-se que o genoma humano, formado por um conjunto de 23 moléculas
de DNA (células n), tenha aproximadamente 10.000 origens de replicação.
FORQUILHAS DE
REPLICAÇÃO
A partir de cada origem de
replicação formam-se duas forquilhas que permitem a replicação
bidirecional.
As proteínas que
participam da replicação afastam progressivamente as fitas de DNA, a partir do
espaço criado na origem de replicação. Assim, a extensão de fita molde vai se
ampliando e permitindo a entrada de nucleotídeos complementares que se orientam
espontaneamente no sentido anti-paralelo ao da fita molde (Figura 21). A
velocidade de deslocamento das forquilhas é grande, no DNA humano estima-se que
seja de 100 pb/segundo e em bactérias é dez vezes mais rápido.
DESLOCAMENTO DA DNA
POLIMERASE
Para que a
replicação ocorra, a DNA polimerase deve se associar á fita molde do DNA e se
deslocar sobre ela, realizando as ligações fosfodiéster entre os nucleotídeos
livres que parearam com as bases da fita molde.
A DNA polimerase sempre faz a ligação de um novo
nucleotídeo a partir da extremidade 3’- OH livre do último nucleotídeo, por
isso, costuma-se dizer que a fita nova do DNA “cresce” da extremidade 5’ para a
extremidade 3’ e que a DNA polimerase se “desloca” na fita nova de 5’para
3’.
Cada uma das fitas da
dupla hélice tem sua polaridade definida pelo modo como as pentoses estão
posicionadas - enquanto uma fita tem orientação 5’-3’a outra têm orientação
3’-5’. A mesma orientação anti-paralela é mantida na fita nova que se forma
durante a replicação do DNA. Assim, apenas uma das fitas novas terá a
extremidade 3’-OH livre voltada para a direção em que a forquilha de replicação
se move. Como a DNA polimerase só pode adicionar novos nucleotídeos em uma
extremidade 3’-OH livre, uma das fitas novas crescerá acompanhando a forquilha
de replicação e a outra será produzida em direção oposta ao do deslocamento da
forquilha.
A fita nova com a extremidade 3’-OH livre voltada para a direção oposta
ao deslocamento da forquilha de replicação terá crescimento descontínuo, será
produzida aos poucos, em pequenos pedaços denominados fragmentos de
Okazaki.
Nessa fita, a DNA
polimerase se ligará á fita molde e se deslocará em sentido oposto ao da
abertura da forquilha, sendo necessário que periodicamente abandone a fita
molde, retorne á forquilha de replicação e novamente se ligue à fita molde,
sintetizando um novo trecho de DNA. A velocidade de replicação da fita com
extremidade 3’-OH livre voltada “para fora” da forquilha é menor e por isso ela
TAMBÉM é denominada de fita retardatária. A outra fita, que tem extremidade
3’-OH livre voltada “para dentro” da forquilha, é denominada de fita
líder.
ATIVIDADE REVISORA
DA DNA POLIMERASE
Os
pareamentos entre as bases A-T e C-G são ditos obrigatórios, embora esses sejam
apenas os pareamentos mais estáveis que se pode obter entre purinas e
pirimidinas. Eventualmente, outros tipos de pareamentos podem se formar, por
exemplo, pares G-T, G-A ou U-G. Esses pares são bem menos estáveis, mas que se
não fossem detectados como “erros” de pareamento causariam grandes alterações na
informação genética transmitida de uma célula para outra.
A DNA
polimerase tem atividade revisora, ou seja, é capaz de verificar se os
nucleotídeos da fita nova estão corretamente pareados com a fita molde. A
atividade revisora (ou mecanismo de revisão, verificação ou proofreading)
permite que antes de realizar adição de um novo nucleotídeo, a DNA polimerase
verifique se o último nucleotídeo que foi ligado á fita de DNA nascente está
corretamente pareado com a fita molde.
Se o
pareamento estiver incorreto, a DNA polimerase desfaz a ligação fosfodiéster e o
nucleotídeo mal pareado é desligado da cadeia de DNA em formação. A capacidade
de remover nucleotídeos da extremidade da fita de DNA nascente corresponde à
atividade de nuclease da DNA polimerase. Essa enzima, portanto é capaz de
realizar duas atividades bem diferentes: realiza polimerização de nucleotídeos
no sentido 5’-3’ e degrada a fita de DNA (remove nucleotídeos) no sentido 3’-5’
.
SEGMENTOS INICIDADORES DA DNA
POLIMERASE
A
atividade de revisão que a DNA polimerase executa antes da adição de um novo
nucleotídeo é obrigatória. Se não existir ligação para revisar, a DNA polimerase
também não pode fazer polimerização. É necessário que exista sempre alguns
nucleotídeos já ligados entre si e pareados com a fita molde, para que e DNA
polimerase possa atuar. Esse pequeno trecho de fita nova, pareada com a fita
molde, fornece a extremidade 3’-OH livre, para que a DNA polimerase possa
adicionar o próximo nucleotídeo.
A DNA
polimerase não faz síntese de novo, porque necessita de um pequeno fragmento que
forneça a extremidade 3’-OH livre para iniciar sua atividade. Isso significa
dizer que a DNA polimerase não pode iniciar a construção da nova fita de DNA,
ligando entre si os dois primeiros nucleotídeos.
O pequeno
segmento de fita nova que permite a ação da DNA polimerase recebe o nome de
primer ou seqüência iniciadora. Essa seqüência de nucleotídeos fornece os
pareamentos necessários para a atividade de revisão da DNA polimerase e a
extremidade 3’-OH livre para a polimerização.
Como
nenhuma DNA polimerase faz síntese de novo, a enzima que faz a ligação entre os
primeiros nucleotídeos que iniciam a síntese de uma nova fita de DNA (primer)
pertence à outra classe. Essa enzima, denominada de primase, é classificada como
RNA polimerase pois utiliza como substrato ribonucleotídeos. Na verdade, cada
nova fita de DNA é iniciada por um pequeno trecho de RNA, aproximadamente 10
ribonucleotídeos ligados entre si e complementares á fita molde de
DNA.
Para a
fita líder (fita nova que “cresce” acompanhando o deslocamento da forquilha de
replicação) é necessário apenas um primer na origem de replicação. A DNA
polimerase se liga á extremidade 3’-OH livre dessa seqüência de ribonucleotídeos
e passa a fazer as ligações entre os desoxirribonucleotídeos complementares a
fita molde, acompanhando a abertura da forquilha de replicação.
Na fita
retardatária ou descontínua, é necessário que, periodicamente, a primase
adicione um novo primer. A partir de cada primer é construído um fragmento de
fita nova de DNA, mas como o deslocamento da DNA polimerase é no sentido
contrário ao da abertura da forquilha de replicação, logo a enzima não encontra
mais fita molde disponível e abandona o DNA. Para produzir uma fita nova
complementar a fita molde que foi recém exposta pelo deslocamento da forquilha,
é preciso ocorrer a adição de um novo primer. Os fragmentos de DNA que compõem a
fita de DNA com replicação descontínua são chamados de Fragmentos de
OKazaki.
A fita
com replicação descontínua é transformada em uma fita de DNA completa, sem
interrupções e sem ribonucleotídeos através da atividade de outras três enzimas.
A remoção do primer é feita por uma nuclease (enzima que destrói ácidos
nucléicos, removendo nucleotídeos) e uma D
NA
polimerase especial, denominada de polimerase de reparo, faz a ligação entre os
dessoxirribonucleotídeos complementares á região antes ocupada pelo primer.
Finalmente, a DNA-ligase faz a união entre a extremidade 5’de um fragmento e a e
extremidade 3’do outro, eliminando as interrupções que existiam na fita
retardatária.
A
primase, como toda RNA polimerase, não possui atividade revisora e os primers
podem conter vários erros de pareamento, isso porém não constitui fonte de
mutações uma vez que todos os primers são removidos e substituídos. As ligações
entre os novos nucleotídeos que substiuem o primer são feitas pela DNA
polimerases que atuam no reparo de DNA e que possuem atividade revisora.
OUTRAS PROTEÍNAS DA FORQUILHA DE
REPLICAÇÃO
A abertura da dupla hélice depende
da atividade de enzimas denominadas DNA-helicases, que catalisam o
desenrolamento do DNA (Figura 30).
A deficiência de
atividade de DNA-Helicase durante muito tempo foi associada a um distúrbio
raro, conhecido como Síndrome de Hutchinson-Gilford (Figura 31). O
envelhecimento precoce é sem dúvida a característica mais notável dessa
síndrome. A hipótese era que o mal funcionamento da helicase seria responável
por renovação deficiente dos tecidos. Em 2002, finalmente foi identificado o
gene relacionado a esse distúrbio e não é um gene para helicase. A hipósete
original não foi confirmada. A proteína associada e esse tipo de progeria
pertence à família das lamininas e se localiza na membrana nuclear.
As fitas simples
que são produzidas pela passagem da helicase rapidamente tornariam a se associar
se não fosse a presença de proteínas que se ligam á fita simples. São essas
proteínas, denominadas de SSB (single-strand DNA-binding proteins), que evitam a
formação de pontes de hidrogênio entre as bases das fitas molde (Figura
32).
Também
participa da replicação uma proteína, denominada de grampo deslizante que forma
um anel em torno da fita molde e faz com que a DNA polimerase fique firmemente
associada ao DNA molde (Figura 33). Na fita com replicação descontínua, o grampo
deslizante libera a DNa polimerase, cada vez que chega em um fragmento já
pronto.
A frente da forquilha de replicação de deslocam as
girases, enzimas classificadas como topoisomerases, que reconhecem as regiões em
que a dupla hélice do DNA está apresentando “maior torção”. É necessário lembrar
que a ação da helicase, ao abrir a dupla hélice de DNA, faz com que as “voltas”
removidas da região aberta sejam transferidas “para frente”.
(Situação semelhante pode ser observada
quando tentamos separar um fio de lã afastando os fios menores. Se o fio tiver
apenas alguns centímetros e possuir extremidades livres, a separação fará com
que as extremidades girem. Se o fio for muito longo, a abertura provocara a
formação de dobramentos nas regiões á frente da abertura).
Fonte : UFMS
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O DNA / ESTRUTURA
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