1. A Família Darwin
Charles Darwin (1809 – 1882) nasceu em 12 de fevereiro de 1809, o quinto de seis irmãos, na família de um bem sucedido médico de interior. Seu avô paterno, Erasmus, uma figura muito respeitada embora algo controvertida, desfrutava da amizade de outra personalidade de grande destaque no século XVIII, Josiah Wedgwood I, fundador da Cerâmica Wedgwood. Esta amizade viu-se coroada com o casamento da filha mais velha de Wedgwood, Susannah, com Robert, filho de Erasmus Darwin.
2. Shrewsbury e Maer
Apesar do interesse de ambos pelas plantas, as inclinações de Charles eram subestimadas pelo pai, que o considerava um fracasso acadêmico. Foi no seu segundo lar, junto de seu tio Josiah, em Maer, a vinte milhas de Shrewsbury, que Charles foi realmente feliz, tendo-se tornado o companheiro preferido de seus primos Wedgwood.
3. Escola e Universidade
Charles cursou a Escola de Shrewsbury desde os nove anos, onde era freqüentemente rejeitado como o menino "que brinca com gases e outras porcarias". Aos dezesseis anos, esforçando-se para agradar ao pai, Charles iniciou os estudos de medicina na Universidade de Edinburgh e posteriormente, dedicou-se à Teologia, em Cambridge.
Não estava porém destinado o ser médico ou pastor. Em ambas as universidades distinguiu-se sobretudo em ciências naturais, área em que nunca se matriculara oficialmente.
4. A Grande Oportunidade
Depois de uma expedição geológica pelo Norte do País de Gales, Charles retornou ao lar, e encontrou à sua espera uma carta de John S. Henslow, professor de botânica em Cambridge. Nesta carta, Henslow informava-lhe que o havia recomendado como a pessoa mais qualificada que conhecia para o cargo de naturalista na expedição do ‘Beagle’, que se iniciaria proximamente. Esta chance única parecia estar perdida quando o pai se opôs ao plano. Dr. Darwin cedeu, contudo, ante a insistência do tio Josiah. E no dia 11 de setembro de 1831 Darwin foi pela primeira vez a Plymouth visitar o ‘Beagle’ e seu capitão, Robert FitzRoy.
5. A Viagem
Apesar da natureza pacífica de sua missão, o retorno do ‘Beagle’ à Inglaterra com segurança não estava assegurado. O risco do encalhe nas águas costeiras pouco conhecidas da América do Sul era profundo. Em terra, o viajante corria o risco do levar um tiro ou ser esfaqueado pelos revolucionários ou pelos indígena;, rebeldes, duvido ao descontentamento político que pairava no ar, mais do que nunca, como rescaldo das guerras de independência. E o rigor da pesquisa exigia que o ‘Beagle’ velejasse por toda a extensão da costa sul-americana, retornando repetidamente aos mesmos portos. O projeto ofereceu a Darwin oportunidades para explorar, a pé ou a cavalo, sozinho ou na companhia de guias, algumas das regiões mais selvagens do mundo. Ele enviou vários engradados repletos de plantas, insetos, conchas, pedras e fósseis para a Inglaterra, e suas cartas para Henslow provocaram tanto interesse nos meios científicos que alguns extratos chegaram a ser publicados pela Sociedade Filosófica de Cambridge, em 1835. Darwin cita, em sua autobiografia, que sua coleção de fósseis também "despertou muita atenção entre paleontologistas". E quando recebeu notícia deste interesse, na Ilha de Ascenção, escalou as montanhas "aos pulos, e fiz as rochas vulcânicas ressoarem sob meu martelo geológico".
6. Brasil
A exploração empreendida por Darwin no Brasil, de 28 de fevereiro a 5 de julho de 1832, foi uma das experiências mais felizes de sua viagem. Após seu primeiro dia na Bahia, em 29 de fevereiro, registrou suas impressões da seguinte forma: "prazer em si só, porém, é um termo fraco para expressar os sentimentos de um naturalista que, pela primeira vez, vagueia sozinho numa floresta brasileira."
8. Terra do Fogo
No dia 28 de novembro de 1832, o ‘Beagle’ zarpou da Baía de San Blas para a Terra do Fogo, e em meados de dezembro já se encontrava próximo ao Cabo de São Sebastião, uma parte da Terra do Fogo desconhecida de todos que estavam a bordo. Após penetrar pelo famoso Estreito do Lo Maire, ancorou na Baía do Bom Sucesso.
9. Argentina e Uruguai
Deixando as Ilhas Falkland em abril de 1833, o ‘Beagle’ rumou para o norte, em direção a Montevidéu e Maldonndo. Darwin permaneceu em lona por várias semanas. semanas, explorando a região do Maldonado e colecionando pássaros e animais. Dos registros em seu diário consta que "por alguns réis contratei todos os rapazes da cidade para meus serviços; e poucos são os dias que não me trazem alguma criatura curiosa". No dia 29 de junho embarcou novamente, com toda sua coleção.
Deixando o Brasil, o ‘Beagle’ rumou para o sul, e pesquisou a costa oriental do continente por muiltos meses, aportando reiteradamente em Montevidéu e em Buenos Aires.-Darwin esperava impacientemente pela chegada a Bahia Blanca pois estava ansioso para explorar o território, recentemente conquistado, que servia de bastião fronteiriço contra os indígenas.
10. Terra do Fogo e Patagônia
No dia 6 de dezembro de 1833, o ‘Beagle’ deixa o porto de Montevidéu, rumando novamente à Terra do Fogo via Port Desire e Port Famine.
11. Chile
Em maio de 1834, o ‘Beagle’ toma o rumo do Estreito de Magalhães e o Canal de Madalena, descoberto havia pouco tempo. No dia 28 de junho ancorou ao largo do Cabo Turn, próximo ao Monte Sarmiento, e dois dias depois adentrou o Oceano Pacífico. O comandante FitzRoy tinha a intenção de velejar para Coquimbo, mas ventos contrários conduziram o ‘Beagle’ para a costa da ilha de Chiloé.
12. Os Andes
No dia 23 de julho de 1834, o ‘Beagle’ aporta em Valparaíso. Enquanto os marujos se recuperavam e o navio era submetido a pequenos reparos, Darwin escalou sua primeira montanha no Chile, o Sino de Quillota.
Este foi um prelúdio estimulante para suas expedições através dos Andes no ano seguinte.
13. O Arquipélago de Galápagos
No período de 16 de setembro a 20 de outubro de 1835, Darwin explorou o arquipélago de Galápagos. Encontrou fauna e flora sem termo de comparação com outras regiões, e que variavam de ilha para ilha. "Nunca pudera imaginar que estas ilhas, distando entre si cinqüenta ou sessenta milhas, e a maioria visível das demais, formadas exatamente das. mesmas rochas, submetidas a um clima bem similar, com quase a mesma altitude, pudessem ser tão diferentemente povoadas
14. O Pacífico e a Australásia
No dia 20 de outubro de 1835 o ‘Beagle’ tomou a direção de Taiti, iniciando o longo percurso de 3.200 milhas marítimas através do Pacífico.
15. Rumando para Casa
O ‘Beagle’ aportou na Austrália pela última vez em King George’s Sound. Lá permaneceu até 14 de março de 1836, retido pelo mau tempo. Seu curso levou-o então para o Oceano Índico, de retorno à Europa.
16. O Problema das Espécies
O período mais ativo da vida de Darwin na Inglaterra começou imediatamente após seu regresso da expedição do ‘Beagle’. Para ele, não havia nada de mais remoto do que a aposentadoria "numa pacata paróquia". Embora tivesse então vinte e poucos anos, tomou seu lugar entre os principais cientistas de sua época.
17. O Grande Debate
O grande debate sobre a origem da vida foi iniciado pelos geólogos britânicos em meados do século XIX. Inevitavelmente, os conceitos de tempo foram alterados com os avanços nos conhecimentos. Enquanto Darwin encontrava-se a bordo o ‘Beagle’, grassava a controvérsia entre aqueles que tentavam reconciliar as descobertas geológicas com a Bíblia e aqueles que, liderados por Lyell, refutavam a interpretação literal das Sagradas Escrituras com base em evidências cientificas.
O interesse do público foi despertado particularmente pelas dramáticas descobertas de fósseis de monstros pré-históricos na Europa e na América. Os fatos que deviam ser esclarecidos eram quando essas criaturas extraordinárias habitaram a Terra eporquê se extinguiram.
18. Casamento
Ao debater consigo mesmo se deveria ou não casar-se, Darwin elaborou uma lista de prós e contras. Como solteiro, argüia, ele poderia perseguir suas pesquisas científicas sem o peso de preocupações domésticas. Mas os dons e encantos de sua prima Emma Wedgwood preponderaram sobre os contras, e a 29 de janeiro de 1839 celebrou-se o casamento de ambos.
19. Down House
Em 1842, os Darwins mudaram-se para seu lar permanente, Down House, no povoado de Downe, condado de Kent. A alegria de Darwin teria sido completa não fosse a doença que o tornou semi-inválido para o resto de seus dias. Contudo, o entusiasmo pelo trabalho científico operava como um analgéstico, e Darwin desfrutava animadamente da companhia de seus familiares e amigos. Encontravam-se todos lá, segundo Hooker, "para discutir questões em qualquer ramo de conhecimento biológico ou físico".
20. Darwin e os Evolucionistas
A especulação filosófica sobre a evolução data dos gregos antigos,,
mas até o século XVIII era desprovida de bases científicas. Os principais evolucionistas da época, o avô de Darwin, Erasmus, além de Buffon e Lamarck, viam-se tolhidos pela insuficiência de evidências e devido à poderosa oposição que suas opiniões causavam.
A essência da teoria do neto foi expressa por Erasmus Darwin em verso:
First form minute, unseen by spheric
glass,Move on the mud, or pierce the
waterymass; These, as successive generations
bloom, New powers acquire, and larger limbs
assume.
(Primeiras formas diminutas,
invisíveis ao vidro esférico,
Movem-se na lama,
ou cortam a massa aquosa;
Estas, com o florescer de sucessivas gerações,
Adquirem poderes novos, e membros de maiores proporções.)
21. A Origem das Espécies
Darwin não perdeu mais tempo com hesitações acadêmicas. Em julho de 1858 iniciou um trabalho para a Sociedade Linnean que veio a constituir A Origem das Espécies, publicado no ano seguinte por John Murray. Marcou história, expondo o mecanismo básico da evolução: a seleção natural.
Darwin havia acumulado tantos fatos para fundamentar sua teoria que seus argumentos eram difíceis de refutar. Mas a implicação de que todos os seres vivos descendem de um ancestral comum insere o Homem no esquema evolutivo, dando início a uma das maiores controvérsias científicas, e cujos efeitos se fazer sentir até os nossos dias.
22. Últimos Anos
Após a publicação de ,4 Origem das Espécies, Darwin aparentemente abandonou os estudos evolucionistas, dedicando-se à área menos controversa das plantas e minhocas. Na realidade, porém, continuou a acumular evidências para sua teoria na vida das plantas, acreditando que estas se prestavam mais adequadamente às suas experiências do que os animais. Em 1876 Darwin redigiu uma curta autobiografia, dedicada a seus filhos, em que registra suas atividades científicas. Suas investigações e experiências levaram-no a fazer muitas descobertas importantes, pelo que é hoje considerado como um dos pioneiros não apenas da teoria da evolução como também no campo da taxionomia dos percevejos, do comportamento animal, da genética, da fisiologia vegetal e da polinização ecológica.
23. Reconhecimento
Darwin viveu o suficiente para ver sua teoria da evolução ganhar aceitação geral. É de Huxley a queixa irônica de que "será um mundo monótono. As idéias que os homens desprezavam há 25 anos logo serão ensinadas nos livros escolares". No dia 19 de abril de 1882 Darwin faleceu em Down, e foi sepultado próximo à tumba de Isaac Newton, na Abadia de Westminster. Huxley, Hooker e Wallace carregaram seu caixão. Sua maior realização foi ter lançado as bases da biologia moderna
Bibliografia indicada:
- A caixa preta de Darwin Autor: Behe, Michael, J.
Editora: Zahar
Temas: Ciências Biológicas, Evolucionismo
- As dúvidas do Sr. Darwin Autor: Quammen, David
Editora: Companhia das Letras
Temas: Biologia, Evolucionismo
- A evolução do ser vivo Autor: Grasse, Pierre-Paul
Editora: Noticias
Temas: Genética, Ciências Biológicas
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