O uso indevido de antibióticos em humanos e animais está acelerando o
processo de resistência a esses medicamentos, segundo a Organização
Mundial da Saúde (OMS).
Antibióticos também parecem estar se espalhando no meio ambiente. Um estudo global recente descobriu que as concentrações de antibióticos em alguns rios do mundo excedem os níveis “seguros” em até 300 vezes.
Os antibióticos são apenas um entre uma variedade de produtos
farmacêuticos, produtos de higiene pessoal e outros contaminantes
ambientais cada vez mais presentes nas águas residuais e nos lixões do
mundo. O relato é da ONU Meio Ambiente.
ONU
Descobertas recentes indicam que 20% das gaivotas-prata na Austrália carregam bactérias patogênicas resistentes a antibióticos,
o que está aumentando o receio de que bactérias causadoras de doenças
possam se espalhar das aves para os seres humanos e animais domésticos.
As gaivotas coletam bactérias, como a E. coli, de águas residuais,
esgotos e lixões.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a resistência a
antibióticos é hoje uma das maiores ameaças à saúde, à segurança
alimentar e ao desenvolvimento global. Numerosas infecções, como
pneumonia, tuberculose, gonorreia e salmonelose, estão se tornando mais
difíceis de tratar, à medida que os antibióticos usados tornam-se
menos eficazes. A resistência a antibióticos leva a internações
hospitalares mais longas, custos médicos mais altos e aumento da taxa de
mortalidade.
A resistência aos antibióticos ocorre quando as bactérias mudam em
resposta ao uso de tais medicamentos. Essas bactérias podem infectar
humanos e animais, e as infecções que causam são mais difíceis de tratar
do que aquelas causadas por bactérias não resistentes.
Embora a resistência a antibióticos ocorra naturalmente, o uso
indevido de antibióticos em humanos e animais está acelerando o
processo, segundo a OMS.
Antibióticos também parecem estar se espalhando no meio ambiente. Um
estudo global recente descobriu que as concentrações de antibióticos em
alguns rios do mundo excedem os níveis “seguros” em até 300 vezes.
“Os pesquisadores procuraram 14 antibióticos comumente usados em
rios de 72 países, em seis continentes, e encontraram antibióticos em
65% dos locais monitorados”, diz um relatório recente da Universidade de
York.
“O metronidazol, usado para tratar infecções bacterianas, incluindo
infecções de pele e da boca, excedeu os níveis seguros pela maior
margem, com concentrações 300 vezes maiores que o nível ‘seguro’ em uma
área em Bangladesh.”
“No rio Tâmisa e um de seus afluentes em Londres, os pesquisadores
detectaram uma concentração total máxima de antibióticos de 233
nanogramas por litro (ng/l), enquanto em Bangladesh a concentração foi
170 vezes maior”, diz o estudo global.
Os antibióticos são apenas um dentre uma variedade de produtos
farmacêuticos, produtos de higiene pessoal e outros contaminantes
ambientais, cada vez mais presentes nas águas residuais e nos lixões,
que podem ter efeitos adversos à saúde. Essas substâncias são conhecidas
como “poluentes emergentes”.
Poluentes emergentes
“As águas residuais municipais, industriais e, mais recentemente,
domésticas são as principais fontes de poluentes emergentes no ambiente
aquático”, afirma Birguy Lamizana, especialista em águas residuais do
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Produtos químicos e compostos que apenas recentemente foram
identificados como ameaças potenciais ao meio ambiente e ainda não são
amplamente regulamentados pela legislação nacional ou internacional são
conhecidos como “poluentes emergentes”. Eles são classificados como
“emergentes”, não porque os próprios contaminantes sejam novos, mas por
causa do crescente nível de preocupação gerada.
“A lista de compostos que são qualificados como poluentes emergentes é
longa e cresce cada vez mais”, diz um estudo do PNUMA sobre produtos
farmacêuticos e produtos de higiene pessoal no ambiente marinho: uma
questão emergente.
“A categoria inclui uma variedade de compostos: antibióticos,
analgésicos, anti-inflamatórios, medicamentos psiquiátricos, esteroides e
hormônios, contraceptivos, fragrâncias, filtro solar, repelentes de
insetos, microesferas, microplásticos, anti-sépticos, pesticidas,
herbicidas, surfactantes e metabólitos de surfactantes, retardantes de
chama, aditivos e produtos químicos industriais, plastificantes e
aditivos para combustíveis, entre outros.”
A deposição atmosférica é uma fonte significativa de poluentes
emergentes em águas abertas. No entanto, a maioria desses poluentes não
está incluída em acordos internacionais com programas de monitoramento
de rotina; portanto, seu impacto no meio ambiente não é bem conhecido.
Desreguladores endócrinos
Um grupo de contaminantes emergentes são os desreguladores
endócrinos. Os desreguladores endócrinos são substâncias químicas que
inibem ou aumentam artificialmente a função dos mensageiros químicos
naturais do corpo.
Peixes e anfíbios próximos a fontes de água poluída mostraram
anormalidades reprodutivas e deformidades físicas, e acredita-se que
isso seja resultado de contaminantes causadores de desregulação
endócrina.
“Mais pesquisas são necessárias para determinar os possíveis efeitos à
saúde de desreguladores endócrinos de baixo nível no esgoto e no
abastecimento da água doméstica”, diz Lamizana. “No entanto, é razoável
supor que em áreas secas ou durante a estação seca os corpos d’água são
mais propensos a conterem proporções mais altas desses contaminantes”.
O estudo do PNUMA diz que o princípio da precaução deve orientar as
respostas aos poluentes emergentes. “Ao promover pesquisas, programas de
monitoramento, reduções de resíduos e química verde, deve se tornar
possível prevenir e mitigar os impactos negativos dos produtos
farmacêuticos sem comprometer sua disponibilidade, eficácia ou
acessibilidade econômica, particularmente em países onde o acesso a
importantes serviços de saúde ainda é limitado”.
“Os ecossistemas naturais de água doce são desvalorizados e
sobre-explorados. Precisamos mudar as nossas estruturas de incentivo do
estímulo à poluição, à degradação do ecossistema e à exploração
excessiva dos recursos naturais para comportamentos pró-conservação. As
ferramentas adequadas para isso já estão à nossa disposição, mas
precisamos garantir que os tomadores de decisões as levem em devida
consideração e ajam”, afirma Jacqueline Alvarez.
Uma resolução adotada pela Assembleia das Nações Unidas para o Meio
Ambiente em março de 2019 incitou os governos e todas as outras partes
interessadas, incluindo agências, fundos e programas da ONU, “a apoiar
plataformas relevantes de interface de políticas científicas, incluindo
contribuições da comunidade acadêmica; melhorar a cooperação nas áreas
de meio ambiente e saúde; e chegar a maneiras de fortalecer a interface
ciência-política, incluindo sua relevância para a implementação de
acordos ambientais multilaterais em nível nacional”.
Da ONU Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/10/2019
Estudo da ONU Meio Ambiente mostra alta concentração de antibióticos nas águas de rios do mundo, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/10/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/10/22/estudo-da-onu-meio-ambiente-mostra-alta-concentracao-de-antibioticos-nas-aguas-de-rios-do-mundo/.