As árvores são um dos organismos mais
incríveis que existem na Terra. Por ficarem paradas, elas apresentam
mais variações do que qualquer outro tipo de organismo. Assim, diante de
uma modificação no ambiente, elas não podem se mover para algum lugar
mais harmônico, e, a longo prazo, modificações começam a surgir para se
adaptarem. Por exemplo, para se proteger contra fungos e bactérias,
surgiu na árvore salgueiro uma substância chamada salicina. E como ela,
milhares de outras substâncias e adaptações também foram aparecendo.
A
importância dessas substâncias para nossa vida é que a partir delas
podemos elaborar novos produtos farmacêuticos. A salicina, por exemplo,
foi a base para a elaboração da aspirina. Já a Mirta, rosa de
Madagascar, é usada para o tratamento de leucemia e o Teixo do Pacífico
no tratamento de câncer de ovário. Além disso, essas substâncias também
são constantemente usadas para a elaboração de cosméticos, como a
essência do perfume Chanel n° 5, que é proveniente da árvore da Amazônia
Pau-rosa.
Mas a importância das árvores para o equilíbrio do
planeta vai mais longe. Embora com uma grande variedade, elas apresentam
uma característica comum: todas fazem fotossíntese. O que significa
dizer que durante o dia elas absorvem radiação solar e gás carbônico e
liberam oxigênio e água. Pensando que nossa respiração é o contrário
desse processo (respiramos oxigênio e liberamos gás carbônico), fica
fácil entender a importância de uma árvore para a nossa sobrevivência.
No entanto, o ponto forte desse mecanismo não é apenas a produção do
oxigênio, mas também a liberação de água. Na Amazônia, por exemplo, a
quantidade de água proveniente das árvores é tão grande que regula as
chuvas de quase todo o mundo. Porém, mais uma vez, não precisamos ir tão
longe, pois as árvores das áreas urbanas também têm um papel muito
importante.
O uso da vegetação é sempre apontado por vários
pesquisadores como uma importante estratégia para amenização da
temperatura do ar nas cidades, relacionada ao controle da radiação
solar, ventilação e umidade relativa do ar. Um dos benefícios do uso da
vegetação é a absorção de grande quantidade de radiação solar, emitindo
uma quantidade menor de calor que qualquer superfície construída, por
consumirem a maior parte da energia para sua sobrevivência. Além disso,
as árvores oferecem menor resistência à dissipação do calor sob suas
copas, garantem uma ação de descontaminação atmosférica e proporcionam
sombra para os pedestres caminharem nos passeios durante o dia.
Um
dos estudos pioneiros feitos na cidade de São Paulo confirmou, em 1985,
que as áreas urbanas com maior adensamento de prédios altos promoviam
maior acúmulo de calor enquanto as áreas urbanas com maior cobertura
vegetal e presença de árvores contribuíam para a perda de calor mais
rapidamente[1]. De lá para cá, diversas pesquisas em várias cidades no
mundo e no Brasil, continuam confirmando esses resultados.
Também
em São José do Rio Preto, uma cidade média no interior paulista
conhecida pelo calor intenso, ficou muito claro que, principalmente no
período noturno, há enorme vantagem no uso das árvores como elementos
importantes na conformação das cidades. Na comparação das temperaturas
do ar entre dois trechos de uma avenida de fundo de vale, um ocupado com
prédios altos e outro com margens arborizadas, foram encontradas
diferenças de até 3°C2.
Apesar do desconforto térmico, ainda não
se percebe a conveniência de se plantar mais árvores na cidade. Se as
árvores pudessem se mover, provavelmente sairiam correndo.
* Rafael Morais Chiaravalloti é biólogo e autor do livro “Escolhas Sustentáveis” (Editora Urbana).
*Luciani Maria Vieira Rocha é mestre em planejamento urbano e pesquisadora da Universidade Paulista – UNIP Fonte: EcoDebate |
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