Pesquisadora da UFRJ comenta impacto do incêndio na Antártica

 O incêndio ocorrido na (EACF) causou sérios prejuízos aos trabalhos conduzidos pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Antártico de Pesquisas Ambientais. A coordenadora do  INCT-Antártico, Yocie Yoneshigue Valentin, professora do Departamento de Botânica do Instituto de Biologia da UFRJ, comentou em entrevista ao Portal da UFRJ o impacto do acidente, ocorrido na madrugada do último sábado, para a pesquisa brasileira.


O INCT desenvolve, desde 2009, estudos em diferentes áreas temáticas no continente gelado: atmosfera, impacto nas comunidades terrestres e marinhas e gestão ambiental. O monitoramento da camada de ozônio, as alterações do clima e o acompanhamento do processo evolutivo das espécies em ambiente inóspito são algumas das atividades conduzidas pelos pesquisadores. 


A coordenadora explica que participam do projeto 208 pessoas, entre professores e alunos de pós-graduação e iniciação científica, além de técnicos especializados de 15 universidades brasileiras, principalmente das regiões Sul e Sudeste. A UFRJ integra as atividades com um contingente de 15 a 20 membros.

No momento do incêndio, estavam na EACF 15 integrantes do INCT, sendo cinco da UFRJ (quatro do Instituto de Biologia e um do Instituto de Biofísica). Yocie vem monitorando a situação do Brasil. Todos saíram da base antártica sem ferimentos. 

Segundo a coordenadora, todo o material que podia ser armazenado em ambiente natural foi destruído. Isso inclui amostras de sedimentos, dragagem e coletas nas zonas de maré. “Com a destruição dos laboratórios, perdemos vários equipamentos, microscópios, aquários usados para análise da fisiologia dos peixes, bombas de vácuo”, afirma Yocie. Amostras armazenadas nos porões do Navio-Polar Almirante Maximiano, da Marinha do Brasil, foram preservadas.

Um dos equipamentos perdidos no incêndio foi o Flowcam, usado para a análise de pequenos seres vivos que ficam na superfície da água, como os plânctons. De acordo com a coordenadora, o aparelho adquirido ao custo de US$ 120 mil havia sido usado uma única vez, em dezembro passado. “Ao longo desses anos, fomos obtendo os equipamentos a duras penas, enfrentando inflação. Além disso, temos pesquisadores que faziam tese de doutorado na Antártica. Ficará uma lacuna”, comenta Yocie.

O acidente
O incêndio na Estação Antártica Comandante Ferraz, base militar e científica brasileira naquele continente, causou a morte dos militares Carlos Alberto Vieira Figueiredo e Roberto Lopes dos Santos e deixou ferido o primeiro-sargento Luciano Gomes Medeiros. Não houve cientistas entre as vítimas. Os pesquisadores foram levados para Punta Arenas, no Chile, e resgatados por um avião Hércules C-130 da Força Aérea Brasileira (FAB). Os corpos das duas vítimas chegaram ao Brasil na manhã da última terça-feira. “As duas perdas humanas são incomensuráveis”, lamenta Yocie.

A EACF foi inaugurada em 6 de fevereiro de 1984 e abrigava atualmente cerca de 60 pessoas. Tinha uma estrutura baseada em contêineres. Ao todo, eram 62 módulos interligados, incluindo laboratórios, oficinas, instalações técnicas para embarcações, biblioteca, dormitórios, refeitório e outras áreas destinadas a um bom convívio, tendo em vista que o espaço era confinado. O fogo teria começado, segundo as primeiras investigações, na casa de máquinas, onde funcionam os geradores da estação. O incêndio se alastrou rapidamente, destruindo cerca de 70% da estrutura.

Para a coordenadora do INCT, o momento agora é de unir forças e não buscar culpados para que a reconstrução da base seja executada o mais rápido possível. Ela acredita ser importante a elaboração de um projeto com módulos separados, minimizando os riscos de um incêndio de grandes proporções. Para isso, os especialistas devem ser ouvidos.

“Vamos tentar continuar o trabalho com força e coragem para recomeçar. Não podemos desanimar e precisamos mostrar para a comunidade científica nacional e internacional do que somos capazes”, afirma Yocie.

O governo prevê um prazo de um a dois anos para a reconstrução da Estação Comandante Ferraz. A coordenadora do INCT observa que os desafios serão grandes para a reconstrução, pois o período de verão está acabando. Nos meses de inverno, a área fica congelada. “A estação é estratégica, pois garante ao Brasil assento no sistema de tratado antártico e a permanência do país nas discussões sobre os destinos do planeta”, conclui Yocie, que passou 38 dias no continente antártico no ano passado. 

Fonte: http://www.planetauniversitario.com/



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